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TRADENER AVALIA QUE RESERVAS DE VACA MUERTA SÃO ALTERNATIVA PARA O BRASIL E PROJETA EXPANDIR SUA PRESENÇA COMO FORNECEDORA DE GÁS 5v3o3b

guilherme-avila (1)A Tradener começou a testar a importação de gás natural vindo da Argentina por meio da infraestrutura de transporte da Bolívia. A operação, ainda em volume reduzido, tem como principal objetivo validar a viabilidade burocrática e logística do trajeto, conectando as reservas argentinas de Vaca Muerta ao mercado brasileiro. Em entrevista ao Petronotícias, o CEO da Tradener, Guilherme Ávila, explica que as reservas argentinas podem se transformar, no futuro, em uma fonte complementar e estratégica de gás para o Brasil — especialmente diante da baixa oferta doméstica. “O grande desafio do Brasil é simplificar a estrutura burocrática para que o gás possa chegar com mais facilidade. Temos algumas iniciativas nesse sentido, mas ainda enfrentamos a velha dificuldade brasileira de complicar o que poderia ser simples”, avaliou o executivo. Ávila também projeta que o sucesso da operação de importação do gás da Argentina, especialmente da província de Vaca Muerta, pode incentivar a construção de novos gasodutos ligando os dois países. Por fim, o CEO diz que a empresa, pioneira na comercialização de energia elétrica no Brasil, quer repetir no setor de gás a mesma fórmula: garantir competitividade e previsibilidade de preço para os consumidores industriais, explorando alternativas sustentáveis de suprimento no médio e longo prazo. “Se Deus quiser, daqui a 25 anos estaremos aqui com uma operação de gás tão grande quanto — ou até maior que — a de energia elétrica”, projetou.

Para começar, poderia contextualizar um pouco essa nova operação de importação de gás e comentar os resultados alcançados até agora?

GASEssa é uma importação que poucas empresas realizaram até hoje. Estamos trazendo gás da Argentina para o Brasil por meio do gasoduto que a pela Bolívia. Compramos o gás de um produtor argentino, a Pampa Energia. Esse gás entra na Bolívia, onde a Pampa tem um contrato de transporte. De lá, temos um contrato para transportar o gás dentro da Bolívia até a fronteira com o Brasil, onde ele entra no Gasbol. A partir daí, usamos o Gasbol para trazer o gás até os pontos onde conseguimos entregá-lo aos nossos clientes e parceiros.

É uma operação interessante do ponto de vista de integração energética. Ela acontecerá ao longo deste mês, com um volume interruptível e pequeno, tanto em quantidade quanto em margem. O objetivo não é fazer uma grande operação com alto volume, mas sim testar toda a estrutura burocrática envolvida.

O que essa operação representa do ponto de vista estratégico?

É um novo caminho para o gás argentino — especialmente da região de Vaca Muerta, que é uma produção recente — chegar até o Brasil. Dependendo das condições na Argentina, que está ando por mudanças estruturais e regulatórias, das condições de transporte na Bolívia, e também do preço do gás aqui no Brasil, essa pode se tornar uma nova fonte de abastecimento para as indústrias brasileiras.

A Argentina está saindo de um modelo muito centralizado no setor de energia. Agora, os produtores estão podendo fazer suas próprias vendas e exportações, tanto de gás quanto de energia elétrica. Já a Bolívia ainda opera de forma bastante centralizada, tanto nos gasodutos quanto nas reservas. O Brasil, por outro lado, volta a ser mais descentralizado, com diferentes produtores e infraestrutura variada. Conectar essas três pontas é um desafio, mas está funcionando.

Do ponto de vista comercial, o que esperar?

GASBOLJá funcionou do ponto de vista burocrático. Agora, precisa dar certo comercialmente. Acreditamos que vai funcionar, mas ainda estamos em uma fase preliminar. Temos contratos com vários produtores argentinos e, num segundo momento, queremos firmar um fornecimento mais estruturado para atender a indústria brasileira.

Essa operação pode abrir novas possibilidades de integração energética?

Sem dúvida. Ela cria um fluxo direto entre Argentina e Brasil. Isso pode incentivar a construção de novos gasodutos ligando os dois países — subindo pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Estamos falando de uma visão de longo prazo, mas que pode abrir portas para novos consumidores e impulsionar o mercado livre de gás no Brasil e a importação da molécula argentina.

O Brasil, apesar de ter uma economia maior que a da Argentina, ainda consome menos gás. É natural imaginar que, em algum momento, o nosso consumo ultrae o dos argentinos. E isso é interessante não só para nós, mas também para os próprios argentinos, considerando o tamanho da reserva em Vaca Muerta. A chave é sermos inteligentes e pragmáticos para atrair essa molécula para cá.

Quais são os próximos os da Tradener para viabilizar a operação comercial de trazer o gás argentino até o Brasil?

imagens-tradener-398-x-505-pxOs próximos os envolvem o encaixe do preço. Hoje, muitos consumidores de gás no Brasil ainda são cativos das distribuidoras. Em alguns estados, dependendo do porte, eles podem ser consumidores livres; em outros, não. Isso porque as regras para o mercado livre de gás no Brasil ainda variam de estado para estado. Na minha visão, isso deveria ser unificado em um patamar mais ível, para incentivar o mercado livre.

Mesmo com essas dificuldades, já temos alguns produtores locais atuando: Galp, Shell, Petrobras, Cosan com seu terminal de liquefação, a própria Eneva, entre outros. Eles estão competindo para atender esses consumidores. Então, o gás argentino precisa chegar com preço competitivo. O gás é uma fonte energética que o consumidor escolhe não só pelas características técnicas, mas também, e principalmente, pelo custo.

Chegando nesse patamar competitivo de preço, qual é a importância dessa nova rota para o país? Especialmente num momento em que a indústria está em busca de novas fontes de gás.

O potencial da Argentina como fornecedora é enorme. Eles estavam em uma situação econômica muito ruim, que agora vem melhorando rapidamente. Antes, talvez nem tivessem condições de explorar toda a reserva de gás que descobriram. Estão lutando para mudar isso. E, por outro lado, nós aqui no Brasil temos pouca oferta de gás. Tanto que consumimos menos do que eles.

O grande desafio do Brasil é simplificar a estrutura burocrática para que o gás possa chegar com mais facilidade. Temos algumas iniciativas nesse sentido, mas ainda enfrentamos a velha dificuldade brasileira de complicar o que poderia ser simples. Tem a questão da aduana, do ICMS, das regras diferentes entre estados, dos clientes de portes variados. Sem contar a presença da Petrobras, que naturalmente não quer perder seus clientes, e das distribuidoras, com suas próprias regras e tarifas. 

Para encerrar, gostaria que você comentasse os planos da Tradener para o médio e longo prazo no mercado de gás. Como vocês pretendem se posicionar nesse setor?

gas-naturalA Tradener pretende se posicionar no mercado de gás da mesma forma que a empresa tem feito no setor de energia nos últimos 25 anos: buscando soluções que tragam economia para o consumidor. Nosso foco é comprar gás a preços competitivos — ou melhor, a preços sustentáveis para o consumidor. Queremos garantir que o preço faça sentido para quem está comprando, permitindo que ele tenha alguma economia e uma melhora no seu processo produtivo.

Temos feito esse trabalho com energia elétrica e, inclusive, nossa base de clientes nesse segmento continua crescendo. Paralelamente, já estamos mapeando quais desses clientes teriam interesse em firmar contratos de gás de médio e longo prazo. É uma operação que ainda é pequena dentro da Tradener, mas que vem crescendo.

Nosso principal negócio continua sendo o setor elétrico, mas o mercado de gás tem mostrado um bom crescimento. Fomos a primeira comercializadora de energia do Brasil. Navegar em mercados novos faz parte do nosso DNA. Gostamos desse tipo de desafio e temos um time experiente e bastante engajado. Se Deus quiser, daqui a 25 anos estaremos aqui com uma operação de gás tão grande quanto — ou até maior que — a de energia elétrica. 

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