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ESPECIALISTAS DEFENDEM USO DE ENERGIA NUCLEAR PARA DESCARBONIZAÇÃO DA AMAZÔNIA LEGAL NO FECHAMENTO DA NT2E 213c55

Imagem do WhatsApp de 2025-05-23 à(s) 02.02.28_440c5dfaApós uma semana intensa de debates e reuniões de negócios, chegou ao fim a feira NT2E 2025, organizada pela Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), no Rio de Janeiro. O último , que fechou o evento com chave de ouro, levantou uma questão importante sobre uma região estratégica do Brasil – a Amazônia Legal. Compreendendo nove estados (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Tocantins) e mais de 800 cidades, a área reúne cerca de 30 milhões de habitantes. Um dos principais desafios da Amazônia Legal está relacionada ao fornecimento de energia, já que há uma forte presença de sistemas isolados de geração alimentados com fontes altamente poluentes. Por isso, governo e especialistas do setor elétrico estudam alternativas para descarbonizar a produção de energia da região. Esse foi o pano de fundo para que cinco debatedores discutissem na NT2E os caminhos possíveis para essa questão. Entre as alternativas, a energia nuclear surgiu como aposta promissora para garantir um suprimento limpo, seguro e contínuo à região. Ao final do debate, o moderador Leonam Guimarães, diretor técnico da ABDAN, perguntou os participantes do quais são os caminhos para possibilitar o uso da fonte nuclear na Amazônia Legal.

O Petronotícias publica agora a resposta de cada um deles, começando pela assessora da presidência na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Patricia Gonzalez:

Imagem do WhatsApp de 2025-05-23 à(s) 02.00.59_6b916f0bÉ algo bem desafiador, mas eu elencaria três principais desafios. O primeiro é o legal-regulatório. Um dos painéis da NT2E trouxe várias questões que estou levando para dentro de casa, para a EPE, para ver como conseguimos refletir isso nos nossos planos, não só no Plano Decenal de Energia (PDE), mas também no Plano Nacional de Energia (PNE). O PDE tem um horizonte mais curto, mas o PNE permite enxergar mais possibilidades.

Além da questão legal e regulatória, eu destacaria também o custo inicial, que ainda é muito elevado — especialmente quando falamos de modelos de negócio para uma região como a Amazônia Legal.

O terceiro ponto é a competitividade. O leilão de sistema isolado é agnóstico em relação à tecnologia e à fonte. A competição entre os modelos de negócio é dura, ainda mais agora com a entrada do preço de carbono, o que já é um o muito significativo e que o Brasil deve comemorar.

A questão do custo ainda joga contra uma tecnologia tão inovadora, mas não tenho dúvidas de que o Brasil, se insistir nos estudos e em avançar em modelos de negócio — seja com SMRs puros ou combinados com outras tecnologias — pode, sim, ver essa tecnologia despontar em futuros leilões. Não acho que seja um futuro impossível.

O deputado Arnaldo Jardim abordou como o tema nuclear pode ser debatido nas discussões do Congresso Nacional:

Imagem do WhatsApp de 2025-05-23 à(s) 02.00.15_de7b16b9Esse é um tema super significativo. Vou fazer alguns comentários objetivos. Um dos efeitos para nós da crise entre Ucrânia e Rússia foi a questão do suprimento de fertilizantes. Tivemos que rever rotas e amos a importar mais do Canadá. E, ao mesmo tempo, temos Autazes (AM), com um projeto aguardando licenciamento ambiental há nove anos, sem autorização, com indefinição se a legislação é estadual ou nacional. Resultado: não podemos comprar de Autazes, mas compramos dos indígenas canadenses, que têm acordos com as mineradoras. É uma ironia.

Estou animado. Acredito que temos amplo apoio parlamentar para as medidas de ajuste necessárias à plena implementação dos pequenos reatores modulares (SMRs) e microrreatores (MMRs) no Brasil. Tenho visto isso no Congresso. O trabalho que o presidente da Frente Parlamentar Nuclear, deputado Júlio Lopes, tem feito é fundamental.

Precisamos de previsibilidade e antecedência quando se fala em energia. Tudo que parece custoso hoje, com escala e aprendizado, tende a se tornar competitivo. Vimos isso com a solar, com o etanol e com o biometano. Energia mais cara é aquela que não temos. Esse deixou isso muito claro.

A executiva Alice Cunha, líder de inovação na americana Westinghouse, apresentou os trabalhos da companhia no desenvolvimento do microrreator eVinci. Ela também chamou a atenção para os desafios legais envolvidos na instalação de usinas nucleares no país.

Alice CunhaConcordo com os desafios apresentados pela Patrícia — a questão legal é realmente fundamental. Outro ponto importante é a proatividade nos estudos. Parte da implementação dessa tecnologia exige, antes de tudo, avaliações locais, estudos sobre desafios adicionais como transporte e controle.

O Canadá, por exemplo, lançou há anos seu roap para uso dessa tecnologia e foi avançando o a o. Além disso, há um desafio muito relevante em relação à aceitação social. Por lá, é feito um trabalho muito próximo com povos originários e comunidades locais. Existem até organizações indígenas que participam da implementação de projetos nucleares.

As empresas também têm responsabilidade nesse engajamento comunitário, desde o início — antes mesmo de o projeto começar. É algo que fazem bem por lá, e que somos demandados a fazer. No Brasil, esse certamente será um desafio, e precisamos levar isso em consideração desde já. Podemos e devemos aprender com essas experiências.

O presidente do Fórum das Associações do Setor Elétrico (FASE), Mário Menel, avaliou que as atividades econômicas legalizadas são fatores que ajudam a defender o meio ambiente.

Mario menelEu parto de um princípio: sem atividade econômica, você não faz conservação. Há vários exemplos. Na Amazônia, por exemplo, há uma proliferação de minerações que não pagam concessão e que não seguem regras. Se você olhar no Google Maps a Reserva de Carajás, verá que ela tem duas partes: uma cuidada pela Vale e outra pelo governo brasileiro. A parte da Vale, que tem atividade econômica e cuja concessão pode ser perdida, está verdinha. A parte do governo está marronzinha. É nítido.

A Patrícia falou sobre o custo. Em uma equação que envolva a Amazônia, temos que incluir um fator estratégico. E essa discussão envolve soberania. Acho que é hora do Congresso Nacional olhar com seriedade para esse tema e entender que precisamos de atividades econômicas controladas na Amazônia. Só assim vamos ter recursos para preservar a floresta. O desafio é estratégico: observar princípios e, a partir daí, moldar a legislação para acompanhar esses princípios.

Por fim, a Gerente de Sustentabilidade no IBRAM, Cláudia Salles, também destacou os desafios regulatórios e de comunicação:

Imagem do WhatsApp de 2025-05-23 à(s) 02.01.21_77f3415dFaço coro às colegas que me antecederam: a questão regulatória é fundamental, é um verdadeiro precursor das atividades. Mas há também uma questão cultural importante, que precisa ser enfrentada para conseguirmos dinamizar a agenda da energia nuclear aqui no Brasil.

Do ponto de vista da mineração — e não falo apenas dos minerais nucleares, mas de todo o setor — um grande desafio é fortalecer a agenda de pesquisa mineral. Hoje, em termos de conhecimento geológico de escala econômica, o Brasil está em torno de apenas 30%. Mesmo com esse percentual, já temos uma grande potência. Imagine se ampliarmos esse conhecimento com mais investimento em pesquisa, especialmente voltada para os minerais nucleares.

Um ponto instigante, e também desafiador, é a própria discussão sobre a flexibilização do monopólio dos bens minerais nucleares. Claro, não estamos falando da parte de enriquecimento e conversão, mas da etapa de pesquisa, extração e da possibilidade de parcerias público-privadas. Vejo aí uma grande oportunidade — e acredito que, com vontade política e articulação adequada, podemos destravar essa agenda e contribuir para energizar, de forma sustentável, a nossa matriz energética com essa importante fonte.

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