CELSO CUNHA DEFENDE MAIS EQUILÍBRIO NA RELAÇÃO ENTRE SETOR PRIVADO E ESTADO PARA RETOMAR ANGRA 3 E VIABILIZAR NOVAS USINAS 1j2e4s
A retomada da construção de Angra 3 e a viabilização de futuras usinas nucleares no Brasil am, necessariamente, por um novo modelo de equilíbrio entre o setor privado e o Estado. Essa é a avaliação do presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha. Em conversa com jornalistas durante a feira NT2E 2025, o dirigente defendeu que é o momento para repensar a equação entre governo e entes privados no mercado nuclear. “Uma relação entre setor privado e Estado precisa ter equilíbrio, e hoje essa equação está desequilibrada. Há excesso de interferência do poder público em um espaço onde isso já devia ter acabado”, avaliou. Cunha também alertou que o atual ime em torno de Angra 3 é resultado direto da recente disputa do governo por mais cadeiras no Conselho de istração da Eletrobras. O presidente da ABDAN considera que Angra 3 continua viável do ponto de vista técnico e econômico — o que falta, de acordo com o dirigente, é clareza do governo sobre o modelo que pretende adotar para envolver o setor privado na conclusão da obra.
A saída da Eletrobras a partir do recente acordo com a União impacta a viabilidade de Angra 3? O projeto ainda tem tração?
Olha, eu acho que tem, sim. Na minha opinião, está mais do que demonstrado, tanto pelo BNDES quanto pela EPE, que existe viabilidade técnica e financeira do projeto. Não dá mais para discutir se é viável ou se é caro — está mais que provado, em todos os sentidos, que é necessário terminar Angra 3. Inclusive, há declarações públicas da EPE, do BNDES e do próprio ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que assinou seu voto favorável no CNPE, apesar de a reunião ter sido suspensa. Ou seja, o Ministério já se posicionou: essa obra precisa acabar.
O senhor acredita que a questão das cadeiras da União no Conselho da Eletrobras foi determinante para o ime?
Sim, na minha visão, esse foi o grande motivador de toda essa confusão em torno de Angra 3. A usina acabou ficando no meio de uma discussão política sobre a venda da Eletrobras — que, inclusive, foi uma promessa de campanha do presidente da República, de tentar reverter essa privatização. Retomar a estatal é difícil, mas ao menos ele conseguiu aumentar a participação do governo no Conselho de istração. E aí o setor nuclear no meio desse cenário conturbado, onde há também interesses bancários e econômicos por trás.
Mas está mais do que demonstrado que terminar Angra 3 é fundamental para o setor energético e para a matriz elétrica brasileira.
Como o senhor avalia o atual momento do setor elétrico brasileiro?
É importante lembrar que o apagão de 24 de agosto de 2023 custou R$ 2,4 bilhões ao país em apenas duas horas. A rede elétrica brasileira já não é a mesma de antes. Avançamos com solar, com eólica — e que fique claro: não somos contra, acho que tem que avançar mesmo. Mas desde 2017 alertamos que a taxa de crescimento da intermitência está monstruosa. Isso vai comprometer a estabilidade do sistema.
O setor privado tem apetite para participar de Angra 3?
Qualquer banco entra numa operação como essa. A grande discussão é: quem quer ser minoritário junto com o governo? Uma relação entre setor privado e Estado precisa ter equilíbrio, e hoje essa equação está desequilibrada. Há excesso de interferência do poder público em um espaço onde isso já devia ter acabado. O único segredo que realmente é de Estado é a produção do combustível nuclear.
Privatizar a Eletronuclear seria o caminho?
Acho que não. Não vejo a privatização como solução para isso. Acredito que devemos trazer o setor privado para dentro do processo. Nas futuras usinas, por exemplo, a operação pode continuar com a Eletronuclear, o que até facilita algumas coisas. Mas a construção e o restante deveriam ser privados.
E no caso de Angra 3, como o senhor vê essa transição?
Angra 3 precisa ser uma transição para esse novo modelo, onde o setor privado tenha mais controle. Ou então o Estado assume de vez: toma conta das três usinas e para de tentar envolver a iniciativa privada especificamente em Angra 3. Outra possibilidade seria criar uma SPE (Sociedade de Propósito Específico), onde Angra 3 fosse ada para o setor privado, separada de Angra 1 e 2. Mas isso precisa ser discutido com clareza — depende do que o governo quer.
E a questão das garantias financeiras?
Esse é o grande ponto. Alguém tem que ser o garantidor dessa operação. O dinheiro não será público — será captado no mercado. Mas precisa haver uma garantia. E aí entra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que até agora não quer dar essa sinalização. A garantia mexe com a balança, e sem essa sinalização, o negócio fica travado.
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As incertezas sobre o término de Angra 3 são muito grandes, dificultando viabilizar o capital. Todos sabem disso. Incertezas sobre o EPC de usinas nucleares de grande porte são significativas, entretanto novos projetos, quase todos desenvolvidos para reduzir os riscos de EPC, têm imensa vantagem sobre Angra 3. O país aguarda Angra 3 há décadas, sem solução. Várias são as estratégias de redução de riscos de EPC nos novos projetos, potências limitadas, modularização de componentes, sistemas e estruturas, industrialização do EPC, reduzindo a construção artesanal, simplificação do projeto reduzindo sobre engenharia, alguns projetos têm a segurança nuclear aumentada através de… Read more »
O capital é de risco, mas não é suicida.