OS CONTRÁRIOS À CONCLUSÃO DA USINA NUCLEAR ANGRA 3 DERRAPAM NA “FALÁCIA DOS CUSTOS AFUNDADOS” 5o6f5m
O debate sobre a viabilidade da usina nuclear de Angra 3 frequentemente envolve a acusação de que o prosseguimento do projeto seria um exemplo clássico da “falácia dos custos afundados”. Essa falácia ocorre quando decisões futuras são influenciadas por investimentos ados irrecuperáveis, sem considerar adequadamente os benefícios e custos futuros. Contudo, no caso específico de Angra 3, essa interpretação é inadequada e tecnicamente simplista, uma vez que ignora aspectos econômicos e estratégicos fundamentais, além de não distinguir entre custos verdadeiramente “afundados” e os custos decorrentes do abandono do projeto. A “falácia dos custos afundados” ocorre quando decisões racionais são comprometidas por se basearem em recursos já despendidos que não podem ser recuperados. Esta armadilha psicológica e econômica leva organizações e indivíduos a continuar projetos inviáveis para justificar investimentos anteriores. No entanto, é importante diferenciar os custos afundados dos custos futuros associados a opções alternativas.
Para tratar especificamente deste tema, o Petronotícias procurou um dos maiores especialistas no assunto, Leonam Guimarães, frequentemente chamado para palestras em eventos no Brasil e no exterior. Na sua experiência na Marinha do Brasil, a força militar responsável pelo desenvolvimento nuclear do país, ele chegou chegou ao posto de Capitão de Mar e Guerra, e é engenheiro Naval especializado em submarinos. Leonam foi presidente da Eletronuclear durante 5 anos e 2 anos como diretor, onde é querido e respeitado, além de ter deixado um legado importante para a companhia. Atualmente, ele é membro de dois grupos de assessoria do Diretor Geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, Coordenador de C&T da AMAZUL e Diretor Técnico da ABDAN. Leonam, que conhece profundamente Angra 3, fala sobre os percalços da Usina ainda inacabada:
– Olha, no caso de Angra 3, o argumento de que prosseguir com o projeto é uma “falácia dos custos afundados,” com você, diz, se baseia na suposição de que os investimentos feitos até agora não deveriam influenciar a decisão sobre a continuidade. Contudo, essa interpretação negligência o fato de que abandonar o projeto acarretaria custos financeiros e sociais futuros substanciais que não podem ser ignorados.
– Qual é a sua posição em relação a este tema?
– Bem, os custos do abandono de Angra 3 não se limitam a investimentos ados que seriam “perdidos”. O custo do abandono envolve elementos significativos e quantificáveis, tais como: Perda de capital investido: Estima-se que o custo do abandono somaria aproximadamente R$ 7,4 bilhões, considerando a perda de capital que teria retorno por meio de dividendos, conforme apontado pela ENBPar e Eletrobras;
Desmobilização e dívidas atuais: A interrupção do projeto levaria ao vencimento antecipado de dívidas e possíveis multas contratuais. Além disso, implicaria na devolução de incentivos fiscais já recebidos e outros custos indiretos;
Impactos na cadeia produtiva: O abandono de Angra 3 resultaria em impactos negativos para fornecedores como INB e Nuclep, bem como para a própria ENBPar, comprometendo sua sustentabilidade econômica e operacional;
Efeitos na segurança energética: A não conclusão de Angra 3 privaria o sistema elétrico brasileiro de uma fonte estável e não intermitente de geração de energia, especialmente relevante em períodos de estiagem que afetam outras fontes como hidrelétricas.
– E quais os argumentos que justificariam a continuidade de Angra 3?
– São alguns argumentos que justificam esta continuidade. Eles vão além da recuperação de investimentos ados e incluem: a contribuição para a matriz energética brasileira: Angra 3 acrescentará 1.405 MW ao sistema, gerando aproximadamente 10 milhões de MWh por ano, o equivalente ao consumo de cidades como Belo Horizonte e Brasília combinadas;
A redução de emissões de gases de efeito estufa: Como fonte de energia limpa e não intermitente, Angra 3 contribuirá para o cumprimento das metas de redução de emissões assumidas pelo Brasil em fóruns internacionais, como a COP 28;
Os Impactos econômicos positivos: Estudos da FGV Energia demonstram que o investimento na conclusão de Angra 3 gerará benefícios expressivos em termos de atividade econômica, PIB e geração de empregos.
– Em relação aos custos que ficaram pra trás, qual deve ser o posicionamento correto?
– Enquanto os “custos afundados” são, por definição, irreversíveis e não devem ser considerados na tomada de decisões futuras, os custos do abandono são previsíveis e mensuráveis. No caso de Angra 3, a decisão de não concluir o projeto resultaria em perdas financeiras imediatas e impactos negativos de longo prazo para o setor energético brasileiro.
Além disso, os custos do abandono incluem a perda de receita projetada com a operação da usina e os prejuízos decorrentes de uma menor segurança energética. Tais custos, portanto, não podem ser ignorados sob o pretexto de que se tratam de “custos afundados”.
-A que conclusão devemos chegar?
– O argumento de que Angra 3 representa um caso de “falácia dos custos afundados” ignora a complexidade do problema e desconsidera aspectos econômicos, estratégicos e sociais envolvidos. A decisão de prosseguir com o projeto deve ser embasada em uma análise ampla e criteriosa, considerando os custos futuros associados à conclusão versus os custos do abandono, que são, de fato, significativos e íveis de mensuração.
Dessa forma, é equivocado reduzir o debate a uma suposta “falácia dos custos afundados” quando há elementos concretos que justificam a continuidade do projeto, especialmente do ponto de vista econômico, estratégico e ambiental.
5 Deixe seu comentário 1j2c6h
A questão essencial de Angra 3 não são os investimentos já feitos e que podem ser perdidos ou não. O aspecto essencial não está no ado, mas no futuro. Com tantos óbices, desvantagens, incertezas decorrentes do caráter de sobre engenharia do projeto da usina, da necessária atualização principalmente na digitalização da instrumentação, da saída do projetista alemão do mercado nuclear, na exaustão dos recursos humanos especializados na usina por envelhecimento, na adaptação de inúmeros componentes, sistemas e estruturas a novos fornecedores pois os originais saíram do mercado em grande parte, na desatualização de conceitos e sistemas de segurança, principalmente na… Read more »
Angra 3 produziria acima de 1200 MWe de energia média ao longo de sua existência, com fator de capacidade de 90%, ultra realista. Isto representa mais de 1% da atual energia média do país. Devido à correlação entre aumento do consumo de eletricidade e aumento de PIB, uma relação de um pra um, Angra 3 acrescentaria no mínimo 1% ao nosso PIB. Estamos falando de 20 bilhões de dólares ao ano. Não sei o que o Brasil está esperando. Mas Angra 3 é muita areia para o caminhão da Eletronuclear. Isto me parece uma decisão do Congresso.
A China já descobriu esta correlação de 1 pra 1 entre aumento de eletricidade e aumento de PIB há muito tempo e constrói mais usinas nucleares do que chuchu na serra. Depois vem vender produtos industrializados aqui e levar nossos empregos pra Pequim. Americano, então, já descobriu isto há mais de meio século com suas quase cem usinas nucleares operando há 50+ anos. O que há de errado conosco?
MEUS PARABENS , ATALLA, POR SUA CORAGEM EM VIR A PUBLICO E FALAR O QUE NINGUEM QUER FALAR OU TEM MEDO.
Parabéns ao Dráusio Atalla. A Eletronuclear deveria estar sendo conduzida por pessoas com seu conhecimento e visão.